domingo, 11 de março de 2012

Crítica Teatral - São Paulo Surrealista

Está em cartaz no Madame, no bairro do Bela Vista, centrão de São Paulo (antigo Madame Satã) o espetáculo da Companhia Teatro do Incêndio, dirigido por Marcelo Marcus Fonseca São Paulo Surrealista. Marcando não só a história da cidade, mas sua relação com os diversos artistas, poetas que aqui viveram e retrataram a cidade nessa visão Surreal, que cada vez mais parece com a realidade em si.
O espetáculo, com duração de 60 minutos é não só uma homenagem à artistas como André Breton (Marcelo) , autor do Primeiro Manifesto Surrealista, que marca o estilo e a linguagem da peça e sua relação com Antonin Artaud (Liz Reis), autor de O Teatro e Seu Duplo, famoso por tentar provar por cartas sua lucidez e forte nome Surrealista, Mário de Andrade (João Sant'Ana) poeta paulistano do movimento modernista e a brasileira Patrícia Pagu (Isabella Dragão), jornalista famosa pelo movimento Modernista e forte nome no meio artístico Paulistano da década de 40. Usando desta linguagem que necessita mais de imagens e sensações que textos, a peça faz sua crítica a esta cidade fomentada em uma diversidade de culturas, costumes, gente, estilos e que ao mesmo tempo, tal qual a maioria de seus poetas e artistas, se destroe lenta e perigosamente e atinge a toda sua população. A São Paulo da peça é alegre, é virtuosa, é atemporal e ilimitada, e junto a isso é inconsequente, é suja, é podre por debaixo, e isto a destroe, tal qual a droga que destroe boa parte de seus usuários. Usuários do crack, do Oxi, do Anhangabaú, do parque Trianon, da Usp.
Em São Paulo Surrealista não busque o espectador compreender completamente o texto e a eloquência sequencial da obra. Não é esse nitidamente o intuito da Companhia. A peça é visual, é sensorial, é sensitiva sem ser sensível demais. É um espetáculo de formas, corpos delirantes, efusivos, um carnaval animalesco por horas e extremamente cru e pungido em outras. É ver a São Paulo que amamos, mas que é underground, que tem o glamour das putas da Augusta, o mar de "junkies" do Anhangabaú, as madames dos Jardins com os cães de raça, a variedade do Leste a Oeste do Sul ao Norte, do centro, da periferia, tão bem marcado pelas falas proferidas por Sérgio Ricardo.
A peça tem aliás seu maior ganho quando trabalha com o coro, com o grupo. São as cenas mais envolventes, mais impactantes. O grupo, bem dirigido e vivo em cena, dança, canta, encara o espectador no olho, não tem pudor ou limitações para exprimir os pecados e as características do ser paulistano. É divertido, é chocante e interage muito bem com a proposta cênica. Nas cenas individuais ficamos mais afastados e mais espectadores do texto que por vezes não compreendemos, nos poucos diálogos e mais a frente com a parte de Artaud, onde conhecemos um pouco daquele artista que surge na última parte da encenação com suas neuras, seus questionamentos, suas crises e fecha o espetáculo com o clima da dor e da ira. Ainda assim, é quando o palco se preenche de gente, de vida, que somos tomados por uma energia, por uma vivacidade e uma estética arrebatadora e eficaz, que prende nossa atenção e nos satisfaz, mesmo que a maioria daquelas imagens não faça sentido da primeira vez e valha a pena ser vista uma segunda, terceira, ser apreciada. Mas aí está o grande barato da peça, é não ser clara e evidente, é nos permitir encarar as coisas que desfilam por nós como quem visita um Masp correndo e precisa olhar para os quadros sem muito tempo para apreciar, capta um detalhe aqui, outro ali, então nos vemos de repente mais aberto a ser impactados pelo todo do que buscando detalhes do mesmos. No meio da peça, somos presenteados pelo próprio poeta surrelaista Claudio Willer, lendo um de seus poemas, num ritual de aceitação aos incompreendidos, aos diferentes, aos judeus da nova sociedade, ao que é banalizado por não ser banal. Lindo de se ver, ouvir e sentir.
A sensação da peça em suma é que estamos presos dentro de um sonho de um paulista. Um paulista que, como Pagu conviveu nesse entremeio artístico, boêmio e corrido da cidade. Claro que todo esse festival recebe um auxílio visual e sonoro competentes, com uma iluminação e sonoplastia que casam com o que vemos e nos trás arrepios e focos interessantes, além da banda ao vivo que dá ritmo e dinamismo ao espetáculo. Algumas cenas ainda não me casam na mente e parecem-me feitas mais para os próprios atores do que para nós, mas num geral a peça envolve, diverte, choca, nada em proporções guturais ou mesmo incômodas, mas de uma maneira que consegue gritar, com educação.
São Paulo Surrealista fica em cartaz previamente até Maio, com possibidade de estender-se, mas recomendo que assista quando puder para que possa retornar. E retorne atento ao que não viu da primeira vez. Como um quebra-cabeça de informações visuais e falas aleatórias que aos poucos se condensam e vão sendo compreendidas quase que debilmente por nossa mente tão acostumada ao mastigado. Um belo trabalho de grupo, de corpo e voz, de sensações e arquétipos tão conhecidos. Um grito paulistano de dor, amor e cumplicidade ao nosso berço sujo, mas ainda de ouro.

P.S. - Se eu fosse você, pesquisavas estes nomes citados na crítica antes de assistir. Conhecer um pouco desses artistas ajuda a saborear a experiência além de ser bonito ver o respeito com o qual eles trataram esses grandes nomes.

MADAME - R. Conselheiro Ramalho, 873 - Bela Vista - São Paulo - SP
Tel: (11) 2592-4474 
Em cartaz sextas às 21:30 Sábados às 21:00 

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segunda-feira, 5 de março de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

O grande vencedor do Oscar deste ano, junto com O Artista invade todas as salas de cinema 3D do país com uma fábula que mescla a necessidade de sonhar com uma bela homenagem à base do cinema e sua origem francesa.
Scorcese reúne os melhores de sua equipe para montar um espetáculo que é um deleite aos olhos, aos ouvidos e ao coração. Hugo foi um sucesso de bilheteria em terras Norte-Americanas e promete sair-se bem mundo afora, não só pela divulgação mas agora pelo reconhecimento da crítica. O filme é tecnicamente impecável, e o próprio Scorcese que era contra o uso da tecnologia 3D para simples vendagem de um longa mostrou aos amigos como se faz uso da tecnologia como parte essencial de contar uma história. Aliás, o 3D sonoro e visual de Hugo é um caso à parte.
Vamos à sinopse? Para quem assim como eu não entendeu patavinas do trailer e não sabe o que te espera, A Invenção de Hugo Cabret tem como personagem principal, claro, Hugo (Asa Butterfield, o fofinho de O Menino do Pijama Listrado e que arrebenta em seu protagonista), rapaz orfão que vive com o tio, um bêbado que o ensina a cuida dos relógios da estação de Paris e desaparece deixando o menino sozinho e com o perigo de ser levado ao orfanato. Tendo de roubar para sobreviver, o menino ainda tem um projeto a cumprir: seu falecido pai lhe deixou um autômato, robô escritor que precisa ser consertado e que ele acredita ter uma mensagem póstuma do pai. Para tal ele rouba peças da loja de brinquedo de velho (Ben Kingsley, soberbo), onde conhece sua afilhada Isabelle (Chloe Grace Moretz, a excelente atriz de Deixe-me Entrar) que passa a ser sua comparsa numa aventura em busca da verdade por detrás deste autômato e do passado sombrio de seu avô. 
Daí se desencadeiam várias reviravoltas e uma história que é uma verdadeira homeagem ao cinema e sua origem e ao poder dos sonhos. O filme usa o 3D como personagem extra, sendo embasbacante seus efeitos durante o longa e como isso ajuda a criar a ilusão necessária. Una a isso um dos melhores trabalhos sonoros digitais de todos os tempos e temos uma fábula com todo o requinte de uma superprodução.
Hugo mexe com a história de Georges Mélies, um dos pinoeiros não só do cinema mas dos efeitos visuais. Vale pesquisar um pouco sobre o cineasta para embarcar melhor na história. A bem da verdade é que Scorcese consegue não somente criar o ambiente perfeito para esta homenagem, como tem em seu time de atores o tom perfeito de uma atuação que não só nos faz embarcar na história, mas se emocionar com cada um deles. Até mesmo Sacha Baron Cohen, o destramblehado ator de Borat e Brüno se destaca com seu papel de Vigia da estação, provando que é melhor ele parar com seus filmes de "comédia" polêmicos e seguir como ator, onde se sai bem melhor. O bacana de ter um diretor reconhecido é que grandes artistas como a excelente Emily Mortimer (Ilha do Medo), Jude Law (Closer), Ray Winstone (Beowulf), Christopher Lee (O Senhor dos Anéis) e a ótima Helen McCrory (a Narcisa Malfoy de Harry Potter) aceitam papéis secundários o que só abrilhantam mais o longa.
EM TEMPO - O trailer de Hugo foi mal montado, o que pode causar no espectador a ilusão de ser um filme infantil cheio de aventura, movimentado e cheio de ação como um Harry Potter ou Nárnia. Não é nada disso. É um drama, então algumas pessoas saem "decepcionadas" do cinema por esperaram ver um filme cheio de efeitos mirabolantes, movimentados e se deparam com uma fábula contada e baseada nos dialógos e nessa homenagem ao cinema. Portanto permita-se ir sem pré-conceitos, saiba desde já que não é um filme movimentado, mas um filme lindo e que nos faz acreditar nos sonhos outra vez. Um belo trabalho de Scorcese, uma mais que merecida homenagem à Mélies.
Nota: 9,0

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar 2012 - Os Vencedores

Ontem foi dia da segunda maior festa do ano (a primeira é meu aniversário), onde o créme de la créme de Hollywood e agora da Europa se unem para celebrar o cinema e seus feitos extraordinários do ano que se passou. Como a indústria cinematográfica tem um atraso do tempo de estréia de um filme em território Norte-Americano para as terras Brasilis, muitos são os filmes que ainda não vimos a cara ou que estão estreiando este mês e que já são indicados. Isso porque as produtoras, visando que os jurados lembrem de seus filmes, guardam aqueles que acreditam ser fortes suficientes para o Oscar para serem lançados lá no final do ano, dezembro geralmente, o que provoca a chegada deles aqui entre janeiro e março. Mas determinado, acompanhei todos os indicados e comento agora os vencedores da 84ª cerimônia dos Prêmios da Academia.

TRILHA SONORA - Vencedor - O ARTISTA

Não tem nem o quê se discutir. Num filme onde não se há falas, o som é essencia e a trilha conta boa parte da história, além de criar o clima certo, e isso a obra francesa faz com grande competência.

Se não fosse esse, ganharia... - Se não houvesse O Artista, o vencedor poderia ser A Invenção de Hugo Cabret, que também faz um sábio uso da trilha incidental para ambientar o longa da maneira perfeita.

EDIÇÃO DE SOM - Vencedor - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

O filme de Scorcese é impecável tecnicamente, como veremos ao longo dos prêmios, e o Som é de uma qualidade assustadora. Vale a pena conferir numa sala de cinema digital.


Se não fosse esse, ganharia... - Possivelmente, Drive, que utiliza também sabiamente do som e causa impacto nos momentos certos.

FIGURINO - Vencedor - O ARTISTA
Mais uma vez, o filme é de época e precisa ser bem ambientado, e isso é feito com um esmero e um primor que o fez merecedor deste prêmio. Outro impecável trabalho. Reparem em como durante a queda da carreira de Valentim o desgaste gradativo dos tecidos e a mudança do preto e branco fortes mudam para tons acizentados.

Se não fosse esse, ganharia... - Fico entre o rico e sonhador figurino de A Invenção de Hugo Cabret e o requintado e renascentista figurino de Anônimo, mas como a Academia já premiou demais filmes da Renascença, iria de Hugo.

FOTOGRAFIA - Vencedor - A Invenção de Hugo Cabret
Scorcese usou de sua melhor equipe para criar o visual deste filme. As cores bem mescladas, os tons de azul e dourado com o cobre e  a profundidade de cores aproveitada no 3D valem o ingresso!

Se não fosse esse, ganharia... - Provavelmente, O Artista. Trabalhar com tons de cinza e conseguir passar nuances de sombra e luz na medida certa para gerar o clima certo é dificílimo e o filme faz isso muito bem.

EFEITOS SONOROS - Vencedor - A Invenção de Hugo Cabret
Mais uma vez, o bom uso do som digital em cenas de explosão, em cenas onde mil coisas acontecem ao mesmo tempo e precisamos ter a sensação correta. O filme é de uma qualidace absurda nesse quesito.

Se não fosse esse, ganharia... - Cavalo de Guerra. Spielberg é outro mestre quando se trata de qualidade sonora, e seu filme épico de guerra consegue fazer o simples trote dos cavalos impactante.

EFEITOS VISUAIS - Vencedor - A Invenção de Hugo Cabret
Como eu disse, um filme tecnicamente perfeito. Hugo Cabret utiliza do melhor da tecnologia para contar sua história. O uso inteligente e inovador do 3D faz valer o ingresso e causa deslumbre. Lindo.


Se não fosse esse, ganharia... - Sou testemunha, mas acredito que venceria Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, outro filme que usou inteligentemente os efeitos especiais para contar a história e com uma qualidade de prender o fôlego.

CANÇÃO - Vencedor - Os Muppets

Realmente acho injusto, não pelo filme nem nada, mas o própria longa tem canções melhores que a indicada Man or Muppet e a canção de Carlinhos para Rio era melhor, mas a academia gosta de um Jazz... E não, não acho que foi patriotismo, preconceito, nada do que os fervorosos fãs dizem, acho que foi simplesmente mal-gosto, e se lembrarmos dos vencedores dos últimos anos, veremos que essa é uma das categorias que eles mais erram.

Se não fosse esse, ganharia... - Claro, o único concorrente, Real In Rio, a excelente canção de Carlinhos Brown e Sergio Mendez, mas muito tropical para os gringos. Também gosto da canção de Madonna para o filme W.E. que venceu o Globo de Ouro.

MONTAGEM - Vencedor - Millenium - Os Homens que Não Amavam As Mulheres

Uma zebra! Ninguém esperava esse, mas achei merecido. De fato, o suspense teria tudo para ser monótono e cansativo, mas a edição dá o ritmo certo e cria a sensação ideal para ficarmos presos nas duas horas e meia de filme. Fincher sabe que sua equipe é ótima nisso, vide A Rede Social e benjamin Button.

Se não fosse esse, ganharia... - Provavelmente, Hugo Cabret, que também consegue usar da edição para dar o ritmo certo ao longa.

MAQUIAGEM - Vencedor - A Dama de Ferro

Esse era quase que inevitável, apesar de ter outro forte, que comento logo abaixo. Mas a caracterização de Meryl Streep como a conhecida MArgareth Thatcher era absurda, era assustadora e incrivelmente humana e real.

Se não fosse esse, ganharia... - Albert Nobbs, sem dúvida. A caracterização de Glenn Close como um homem é outro trabalho assustador. Um bom ano para os maquiadores.


DOCUMENTÁRIO - Vencedor - Undefeated

O filme foi lançado no finalzinho do ano lá e conquistou o público com a já manjada história de superação de um time ruim, mas aqui acompanhado de perto e com uma qualidade que não o faz piegas, o faz intenso e lindo.


Se não fosse esse, ganharia... - Pina, o excelente acompanhamento de Win Winders em três espetáculos dos grupos de balé de Pina Bausch. Excelente produção, chega em breve no país.

DIREÇÃO DE ARTE - Vencedor - A Invenção de Hugo Cabret
Como disse, filme bonito de se ver. As Cores, os cenários, as luzes, a riqueza de detalhes, tudo é um deleite visual e isso Dante Ferreti, amigo de chiclete de Scorcese faz como poucos.


Se não fosse esse, ganharia... - Olha, fico em dúvida entre a recriação Hollywoodiana dos anos 20 de O Artista ou a recriação Parisiense de Meia Noite em Paris. Os dois mereceriam.

ROTEIRO ADAPTADO - Vencedor - Os Descendentes

Mais que merecido. A obra conseguiu filtrar toda a humanidade e os conflitos do drama e transpôr com diálogos fantásticos para a tela. O filme é todo baseado nos diálogos e eles são inteligentes, atuais e diretos.

Se não fosse esse, ganharia... - Talvez O Homem que Mudou o Jogo, que também soube transpôr com eficiência o livro e os diálogos ficaram muito bem costurados.

ROTEIRO ORIGINAL - Vencedor - Meia-Noite em Paris

Ainda bem que não ganhou o Artista. Amo o filme, mas a idéia de Woody Allen é bem mais original e de uma inteligência cômica e costura ótimas. O filme tinha tudo para ficar confuso, mas não fica graças a riqueza dos diálogos de Allen e sua inteligência literária.

Se não fosse esse, ganharia... - Voto em A Separação, outro que é inusitado ao pegar um fato simples e fazer reviravoltas e tirar pêlo de ovo com diálogos ótimos.

ANIMAÇÃO - Vencedor - Rango

A ótima animação do diretor de Piratas do Caribe com a caracterização de Johnny Depp como o camaleão com crise de identidade e um roteiro mais que criativo fizeram de Rango a animação mais premiada do ano, e com méritos. Já está em DVD no Brasil!


Se não fosse esse, ganharia... - O queridinho do público, o divertidíssimo O Gato de Botas, que sai do Shrek e ganha forças para ser um desenho separado com estilo e graça.

FILME ESTRANGEIRO - Vencedor - A Separação

Só poderia ser. O longa Iraniano tem levado todos os prêmios e com todo o direito. A trama é inteligente, simples e eficaz, os atores competentes e o filme tem um ritmo e direção competentes. Uma boa forma de vermos como se faz um filme não estrangeiro, mas mundial.


Se não fosse esse, ganharia... - Tinha de ser ele, mas se não existisse o filme, o outro seria In Darkness, excelente visão do Holocausto com um roteiro muito bem desenvolvido e excelentes atuações.

ATRIZ COADJUVANTE - Vencedora - Octavia Spencer

Era dela e ninguém tirava. A excelente Octavia é a alma e a graça de Histórias Cruzadas. Sustenta sua personagem com um talento e uma força que transcende a tela e nos emociona sem esforço algum. Aliás, o filme tem um grupo de atrizes incríveis!

Se não fosse ela, ganharia... - Janet McTeer, por seu papel intenso, difícil e bem executado em Albert Nobbs, segurar a tela com Gleen não é tarefa para qualquer uma e ela faz isso com muita força e talento.

ATOR COADJUVANTE - Vencedor - Christopher Plummer

Outro troféu merecido. O senhor Plummer venceu praticamente todos os prêmios com seu personagem intenso e cheio de características que poderiam se tornar clichês e piegas em Toda Forma de Amor - ele é gay, tem câncer terminal e namora um garoto. Mas ele faz co0m uma maestria, uma seriedade e uma leveza impecáveis.

Se não fosse ele, ganharia... - Keneth Branagh pela personificação incrível de Sir Laurence Olivier no longa Sete Dias Com Marilyn. Não só uma homenagem ao grande ator britânico, Branagh faz de uma maneira muito limpa e competente sua versão do astro.

ATRIZ - Vencedora - Meryl Streep

Ela já está cansada de ganhar, acha que outras devem ter sua chance, mas Meryl, então pára de ser tão absurdamente boa! Ela personificou uma figura política controversa e muito conhecida com um dom e uma inteligência que vemos poucas vezes na história do cinema. Desde os trejeitos, voz, tiques, maneiras de parar, pausas, tudo é absurdamente crível e coordenado como uma maestra. Uma aula de interpretação.

Se não fosse ela, ganharia - A outra ótima Viola Davis e seu trabalho mais que lindo em Histórias Cruzadas. Vale a pena ver esse filme e se deliciar com essa talentosíssima atriz que nos comove e emociona sem esforço, mas com muita força e verdade.

ATOR - Vencedor - Jean Dujardin

Ele é o carisma e a simpatia em pessoa. O francês segurou as pontas sem abrir a boca durante as mais de 2 horas de O Artista e podemos dizer que boa parte do filme ser tão cativante e prender a nossa atenção é graças à ele. E dança, e sorri, e chora, e pira, faz tudo isso com sincronia e uma verdade no olhar que nos comove.


Se não fosse ele, ganharia... - Amo o Gary Oldman e ele está ótimo em O Espião Que Sabia Demais, mas Clooney arrebenta em Os Descendentes. Seu papel de viúvo perde todos os trejeitos de Clooney que se limpou de manias interpretativas e compra o drama da personagem, embarca na história e nos comove. Simples e eficaz.

DIRETOR - Vencedor - Michel Hazanavicius
O trabalho de direção de O Artista é primoroso. Arrancar o que necessita de seus atores sem ser piegas ou falso, a harmonia de cada elemento do filme e contar uma história que tem tudo pra ser antiquada e cansativa de uma maneira inovadora faz deste francês merecedor de seu prêmio.

Se não fosse ele, ganharia... - Martin Scorcese e seu trabalho de mestre grandioso em Hugo Cabret. Scorcese maestre cada elelmento do filme com inteligência e talento de quem sabe o que faz.

FILME - Vencedor - O ARTISTA
Não tinha como não ser, era óbvio e merecido. O filme ficará marcado na história do cinema por voltar com vários elementos considerados obsoletos e cativar o público exatamente com tudo isso que achávamos morto. O filme é simples, romântico, nostálgico, lindo de se ver e por isso, inesquecível.

Se não fosse ele, ganharia... - Fico entre a qualidade de Hugo Cabret e a qualidade cênica de Histórias Cruzadas.

Ufa, acabei! E que venha 2013!!

Aaaah - Dia 05 estarei no Canal RIT Notícias no programa Análise Direta falando de cinema brasileiro!

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de A DAMA DE FERRO

Phyllida Lloyd, diretora de Mamma Mia teve de trabalhar com o lado jovial da veterana Meryl Streep ao fazê-la uma mãe quarentona, dançante e serelepe. O resultado foi que o filme foi indicado ao Globo de Ouro de melhor Comédia ou Musical e Meryl indicada a Melhor Atriz na mesma categoria. Portanto quando recebeu em suas mãos mais um roteiro britânico, agora biográfico e retratando uma das maiores mulheres da história política da humanidade e que ainda vive, Phyllis (preguiça de escrever o nome da mulher de novo) não hesitou e convidou sua amiguinha, aquela tal de Streep, agora para o desafio contrário. Envelhecer e ganhar o peso da idade, da cabeça em desajuste e de quem foi a Dama de Ferro da Guerra Fria, a grande, controversa porém respeitada Margareth Thatcher.
O filme então tece uma retrospectiva da carreira e da vida pessoal da Sra. Thatcher, desde sua adolescência simples até seu ingresso no congresso e sua batalha para se tornar líder do partido. Mostra como a corrida para o cargo de primeira-ministra foi quase que acidental e depois como o seu famoso pulso firme causou mudanças drásticas no cenário inglês. Tudo isso entremeado com a vida atual de Margareth, com cenas lindas de seus momentos de esclerose.
O filme corria o risco de ser político e enfadonho? Sim. Poderia se equivocar ao tentar transformar em Mártir uma figura política que nem sempre acertou? Sim. Poderia ser ofensivo ao tentar mostrar uma Margareth velha, esclerosada e digna de pena? Sim. Mas felizmente, nada disso ocorre. Parte graças ao roteiro correto, mas grande parte graças ao trabalho impecável de Meryl Streep.
Meryl consegue não somente dar vida a uma figura mundialmente conhecida a qual muitos de nós ainda se recorda dos discursos e da aparência, mas faz isso com uma humanidade, um respeito pela mulher por detrás da figura e com um talento de encher os olhos. É visível a transição de uma moça determinada a organizar a casa e a situação política de seu país, para as dificuldades de se administrar um país em guerra e ainda assim defender que ali ela não é uma mulher, é uma líder. A maneira como Meryl transita nessas inseguranças, rumo a construção de uma líder é arrepiante. Unido a isso, a quebra que faz na velhice de Thatcher (destaco aqui também um dos melhores trabalhos de maquiagem que já vi), sua fragilidade, ao mesmo tempo que temos relances desta mulher que sempre foi forte porque tinha de ser a mais forte de um país e sua luta com sua insanidade em busca de não perder quem ela realmente é. Tudo isso desfila aos nossos olhos de maneira sublime e perfeita.
Não, o filme não é perfeito. O roteiro é apressado, conta bem en passant suas dificuldades e suas batalhas políticas. É bem mais fácil se envolver quando se vivenciou o que ela fez, mas isso o filme não se dedica em detalhar nem em explicar, fica simples, rápido. Para mim, rápido demais. Deixa um gostinho de quero mais que sabemos não acontecer, não é um filme de sequências. Dá vontade de acompanhar aquela mulher por pelo menos mais meia-hora. Talvez o medo de ficar documental tornou o roteiro sucinto demais.
Ainda assim ,em suas 01:40 horas, o filme pe um deleite para vermos a grande Meryl Streep fazer o que faz melhor e dar uma aula de estudo da personagem e criação de um papel. Meryl se torna um our concour quando o assunto é trabalho memorável. Sua Thatcher agradou não só os exigentes conterrâneos da Dama de Ferro, mas surpreendeu o mundo.

Nota: 8,0.

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domingo, 12 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

Quando David Fincher, diretor que começou sua carreira com videoclipes da Madonna, depois encontrou Hollywood com os ótimos Alien 3, Sete, Clube da Luta, O Quarto do Pânico e abrilhantou os olhos do pessoal do Oscar com Benjamin Button e A Rede Social, decidiu refilmar o primeiro livro da saga Millenium que havia sido feito em seu país de origem mal fazia um ano eu pensei - Ok, pode dar certo, embora o original já tenha ficado muito bom. E deu certo. Em alguns aspectos ainda melhor.
Eu sou um grande fã do cinema Europeu, mas apesar de gostar muito dos filmes Suecos, Suiços, todos eles tem um item que me incomodam um pouco - o ritmo. Histórias ótimas, sempre atores e atrizes concentradíssimos, uma fotografia e direção linda, mas o ritmo sempre cai no meio do longa. Eu achava isso deste original e com a versão de Fincher isso se perde, parte graças a uma inteligente edição, parte graças ao trabalho dos atores e da narrativa mais Hollywoodiana, sem perder a essência da trama.
No longa temos a história de um jornalista processado por difamação (Daniel Craig) que graças a perda do processo pode levar sua revista a falência. Paralelamente temos a história da orfã Lisbeth (a excelente Rooney Mara) e sua batalha para continuar recebendo pensão do seu tutor doente e mantar sua fonte de renda alternativa - rackeamento de computadores. O jornalista é chamado por um velho sueco rico que quer, antes de morrer, uma biografia de sua família, mas usar isso para descobrir o fim que deu sua sobrinha, desaparecida a anos. Ele dá como pagamento para o jornalista, além de dinheiro, informações que podem inverter o processo que o está difamando.
Não vou contar mais que isso (que é só os primeiros 10 minutos de 2 horas e meia de reviravoltas) para não estragar o barato de um filme investigativo. O bacana de Os Homens... é que é um filme baseado num livro bem escrito, bem amarrado. As informações não são cuspidas na tela, elas vão surgindo aos poucos, taciturnas, sombrias, sem sabermos a importância de cada uma delas até termos o primeiro desfecho, lá pelas 2 horas de projeção (sim, temos mais de um desfecho no filme). Claro que tudo isso é abrilhantado por uma inteligente direção, uma ambientação e fotografia que fazem TODA a diferença, deixando o clima certo de suspense e um grupo de atores inspirados, destacando-se a indica ao Oscar Mara, pela construção perfeita de uma Lisbeth complexa e carismática em sua esquisitisse.
Para os fãs de suspenses, é um prato cheio. Para os admiradores de bom cinema, um exemplo de que um filme pode ser popular e bonito ao mesmo tempo, além de inteligente. Vale a visita ao cinemas e depois vale ver o original.

Nota: 9,0

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de O ARTISTA

Qual a importância da fala? Comunicação? Expressão? Algumas teorias apoiam a idéia de que é a capacidade da fala que nos define como seres racionais. A fala também é dissipadora de raças, é o que nos impede de sermos um mundo unificado, separando-nos por idiomas que tornam um cidadão de um país ininteligível para o outro, provocando até guerras, como na teoria da Torre de Babel. o fato é que a fala se tornou algo tão comum a nossas vidas que só percebemos o quanto ela importa quando a perdemos, quando ficamos roucos, por exemplo.
Mas quando perdemos a voz também percebemos o quanto somos desbocados, falamos sem medir e coisas tão desnecessárias. Filtramos nosso vocabulário para o essencial e valorizamos outros tipos de comunicação. A própria arte é, em si, classificada por várias maneiras de expressão: cantada, falada, desenhada, pintada, dançada. Mas todas elas comunicam algo. O cinema, desde seus primórdios, há mais de cem anos, até o final da década de 20 se comunicava sem falas, com atores cheios de expressões, mímicas, trejeitos e, quando necessário, uma ou outra fala ela posta em cartazes durante o longa, como conhecemos pelos famosos filmes de Chaplin. Porém tal ferramenta de comunicação, com o advento da tecnologia, aprendeu a inserir som ambiente na película, passando a ser falado, depois cantado e assim extinguindo esse estilo cinematográfico que fez surgir tantos artistas com a mesma intensidade que nos esquecemos deles quando foram substituídos por outros jovens de voz mais agradável.
O tema já havia sido discutido em filmes como Cantando na Chuva, musical baseado na história de um ator de filmes mudos que tem de se adaptar ao novo cinema e se apaixona por uma jovem dubladora de outra famosa atriz de cinema mudo, mas que precisa ser dublada pois é fanha. Os franceses aproveitaram de uma premissa igual, mas agora pondo como protagonista o ator que cresceu demais no cinema mudo e não acredita no cinema falado e seu romance com uma jovem atriz que entra no mercado falante.
O Artista já assume essa áurea desde seu visual, nostálgico, preto e branco, uma bela fotografia, instaurados figurinos, cenários e esse ambiente da Hollywood pré-queda da bolsa de valores, onde tudo corria conforme o previsto. Dentro desse ambiente já somos apresentados ao protagonista, interpretado brilhantemente e belamente pelo francês Jean Dujardin e sua fama calorosa. Depois conhecemos seu par amoroso, a típica mocinha sapeca que quer ser atriz e tem tino pra coisa. Daí pra frente seguimos os dois caminhos opostamente: o crescimento da carreira de Peppy, a novata no cinema falado e a queda de Valentin no cinema mudo e seu fracasso na vida pessoal e profissional.
O Artista segue de sua abertura até o lindo final um ritmo gostoso, combinado com uma trilha fantástica e um clima adequado para um drama com comédia e romance na medida certa. O filme é doce, é simples, romântico, nostálgico e contagiante do início ao fim. Até mesmo o cachorro do filme rouba a cena com seus truques e adestramento impecáveis, nos causando mesmo emoção nas cenas de solidão.
Mas o que faz de O Artista um marco no novo cinema não é seu enredo nem seu estilo, mas sua coragem e audácia ao provar que o cinema mudo ainda funciona. A tese de seu enredo, do fracasso de um cinema antiquado e monótono comparado a tecnologia é posto em cheque com um filme que, em pleno séxulo XXI, onde produções como Avatar enchem a tela da necessidade gráfica dos computadores e sons digitais, a essência do filme ainda está nesses dois elementos: os atores e o enredo. E isso é maestrado magnificamente por Michel Hazanavicius e seu grupo de competentes artistas, técnicos e interpretativos, neste que será um filme para ver e rever e um dos mais inesquecíveis dos últimos tempos. Um belo acerto, uma bela homenagem, um exemplo de respeito pela arte do cinema.

Nota:10

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de HISTÓRIAS CRUZADAS

Hollywood gosta de nos fazer chorar de vez em quando. Seja com romances forçados na luta pelo amor perfeito e o universo conspirando contra, seja com pessoas heróicas que só querem fazer o bem e acabam sendo torturados pela dura realidade chamada vida, ou mesmo usando do plano espiritual na promessa de um amor além da vida, sempre somos pegos na necessidade de levar um lenço para a sala de cinema e sair de lá precisando de soro.
Portanto muito me agrada quando um filme te emociona sem precisar empurrar o sofrimento alheio goela abaixo ou mesmo ficar com closes profundos e canções mela-cueca para que você de fato se arrepie e verta lágrimas. Filmes como Flores de Aço, A Cor Púrpura, O Filho da Noiva e agora esse Histórias Cruzadas são assim. São lindos pela beleza de sua história em si, sem precisar serem melo-dramáticos.
Por sinal em muito este filme me lembra Flores de Aço. Seja pelo fato de ser comandado por mulheres (no longa se temos 5 atores é muito, perto de mais de 20 mulheres), seja pelo fato impecável de usar do humor para quebrar o drama e ser muito competente em tal. Assim como em Flores de Aço, é a vida dessas mulheres que vai nos envolvendo sem pressa, sem a necessidade de compaixão, mas com uma clareza de narração, uma vivacidade oferecida pelo grupo de atrizes (que ganhou merecidamente o SAG Awards de melhor elenco) e uma qualidade cinematográfica de encher os olhos.
A história do filme gira em torno de, basicamente, duas mulheres: Skeeter (a nova queridinha da América e ótima Emma Stone) - moça que está ficando pra titia e quer ser jornalista em plenos anos 60; e Aibileen (a fantástica Viola Davis, fez Dúvida) - empregada doméstica solitária que decide ajudar a moça em sua incursão jornalística. Skeeter precisa escrever dicas domésticas em seu primeiro emprego no jornal e, por não cohecer nada do assunto, pede a amiga que empreste sua empregada para auxilia-la, uma vez que sua empregada foi embora. Porém observando o tratamento que as demais empregadas domésticas recebem de suas afetadas e fúteis patroas, Skeeter decide escrever um livro contando a vida do ponto de vista das empregadas. Para tal, ela precisará que Aibileen ponha os medos de lado e junto com as outras empregadas, dêem seus depoimentos.
Dentro dessa premissa, muitas outras histórias se desenvolvem, talvez daí a escolha do título brasileiro equivocado, uma vez que o título original THE HELP, é o termo que utilizam para designar as auxiliares, ou as domésticas. Apesar da troca do título, o filme é de fato um cruzamento das histórias dessas empregadas e de suas patroas, enquanto acompanhamos a luta de Skeeter por ser ela mesma e a luta dessas mulheres sofridas em manterem seus empregos e sua dignidade em meio ao tempo da segregação.
O filme é belamente feito do início ao fim. Seja com a trilha sonora eficiente e bem pontuada, seja com a fotografia alegre e sulista, com o competente trabalho de ambientação, figurinos e maquiagem, é tudo de um primor maravilhoso. Além disso, o roteiro foi adaptado de maneira a preencher as quase duas horas e meia de projeção parecendo meia-hora, tamanho é o envolvimento com a trama e as personagens, essas sim a força-motriz do longa. Histórias Cruzadas tinha muita coisa que poderia torná-lo piegas e fraquinho. Uma mão errada na direção, um roteirista melodramático e atrizes exageradas poderiam ter posto tudo a perder. Mas ainda bem não temos nada disso aqui. Temos uma direção competentíssima, um roteiro equilibrado e atrizes empenhadas, talentosas e sábias em suas interpretações. Dentro das quais destacam-se, além das aqui já citadas, a excelente Octavia Spencer (da série Ugly Betty e filmes como Sete Vidas e Arrasta-me Para o Inferno) e sua enfezada Minnie, a praticamente novata Jessica Chastain (do também indicado ao Oscar A Árvore da Vida) que me surpreendeu pelo timing cômico perfeito, a outra surpreendente Bryce Dallas Howard (de A Dama da Água, Homem-Aranha 3 e Além da Vida) sustentando super bem a maléfica Hilly, Allison Janney (de Juno e Hairspray) como a mãe de Skeeter e a bonitinha da Sissy Spacek (a eterna Carrie) como a mãe esclerosada de Hilly. Isso é que elenco, hein?
Portanto reserve um dia em sua agenda e prestigie este que é sem dúvida um filme que agradará a todos. Diferente de alguns outros indicados os Oscar que são mais feitos para crítica que para público, Histórias Cruzadas é feito para todos aqueles que sabem a importância do respeito e o quanto a ignorância agride nossa sociedade. Um deleite, uma experiência que te fará sorrir, mesmo com lágrimas nos olhos.
Nota: 10

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de OS DESCENDENTES

Eu sempre gostei do trabalho de Alexander Payne. Desde Eleição, às Confissões de Schmidt e Sideways, o bacana de seus filmes é que sempre havia uma personagem que relacionávamos com alguém que conhecemos em nossa vida, seja um vizinho, um colega de escola, um tio, são sempre humanos e com suas características disfuncionais. Mas agora Payne acertou na mosca ao deixar de lado os estereópicos e ir na essência, no mais visceral e humano dos sentimentos e nos faz deixar de identificar o vizinho ou o amigo e passamos a nos identificar com a personagem. Ainda bem que pra isso ele contou com o talento (que me surpreendeu) do Sr. George Clooney.

A história de Os Descendentes é simples e eficaz. Numa família onde advogado workaholic mal tem tempo para as filhas e a esposa, eles precisam frear suas rotinas quando a mãe da família, Elisabeth, sofre um acidente de barco e entra em coma. Matt King (Clooney) tem que se desdobrar em mil então para controlar as filhas, uma adolescente problemática de 17 anos e uma menina de 10 que não consegue lidar bem com o fato, enquanto precisa resolver uma questão judicial que envolve a família toda e um pedaço (!) do Havai. Ainda dentro desse reboliço, duas notícias (que não contarei aqui para não estragar a santa e gostosa ignorância ao assistir ao longa) vão afundar mais esse precipício de emoções em que o protagonista da trama se encontra.
O filme tem tudo pra ser melancólico e não é. Isso parte devido ao decente, eficaz e inteligente roteiro também de Payne, que sem ficar piegas ou sem usar do mal-gosto insere piadinhas aqui e ali ou mesmo momentos cômicos, mas de uma sutileza que me fez lembrar aqueles momentos constrangedores nos velórios da família quando vemos algo que, em situação menos trágica, seria hilário. Junte também a isso a sábia decisão de utilizar o Havai, local que ligamos apenas com alegria, férias e gente sorridente como ambientação de um drama familiar, o que suaviza tudo. A trilha típica e folclórica por vezes ajuda muito, além de uma fotografia inevitavelmente alegre, que mantém o filme com esse pé de vida real e não permite que deprima o espectador, sendo o fato do coma em si depressivo o suficiente mas sem tambémk açucarar demais o filme.
Clooney nos entrega um Matt perfeito. Repito, perfeito. É raro vermos um ator que consegue dosar e carregar o clima, a atmosfera do drama e ser tão humano, tão dócil e tão homem ao mesmo tempo na tela. Em alguns momentos nos desespera ver a calma e a paciência com a qual ele rege aquele emaranhado de problemas e em seus momentos de tristeza, com suas lágrimas sinceras, a vontade é atravessar a tela e abraça-lo. Ele construi um pai com todo o respeito e peso que a personagem merecia e carrega o filme sem dificuldade nenhuma nas costas. A dupla de atrizes que fazem suas filhas ajuda muito e são muito qualificadas na função de adolescentes que demoram para compreender a vida e o que estão passando.
O filme decorre por suas duas horas sem problemas, sem cansar nem desinteressar, é lindo, comovente, humano, divertido, mas o mais importante: É SIMPLES. E na simplicidade encontramos um dos melhores filmes do ano, sem dúvida. 

Nota: 9,0

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

CRÍTICA - A Separação, Meia-Noite em Paris e A Árvore da Vida - OSCAR 2012

E o blog voltou de suas longas férias!

Aproveitando o fricote em cima do Oscar e seus nomeados, vamos começar com um post triplo, com pequenas críticas dos três dos indicados a Melhor Filme que já assisti.

A SEPARAÇÃO

Acabo de assistir esse drama iraniano que venceu o Globo de Ouro como filme estrangeiro e já aponto como meu favorito ao prêmio da Academia. O roteiro é fantásticamente bem amarrado, numa simplicidade e ao mesmo tempo numa intensidade de dar gosto. O que mais me agrada na obra é o fato de, como o vencedor do ano passado, o excelente O Segredo de Seus Olhos, ser um filme que não obrigatoriamente se passaria no Irã. Quem me conhece sabe que minha crítica ao cinema brasileiro é que é documental demais, parece que tiram roteiros do Jornal Nacional ou do Datena. Os bons filmes são mais humanos que patriotas. Mais mundiais que regionais. A Separação esbarra sim, em algumas particularidades de lei e religião, mas o cerne da história está ali e é humano. Basicamente, um casal pretende se separar e o marido precisará de ajuda para cuidar do pai, com Ahlzeimer. A empregada contratada comete um erro que provocará uma reviravolta no filme, não falarei o quê. Vale a pena assistir. Nota: 9,0

MEIA-NOITE EM PARIS

De fato, Woody Allen em sua melhor forma, como seus clássicos, não tão maluquinho como ultimamente, mas mais romântico e nostálgico impossível. A trama se desenvolve em Paris, com um ótimo Owen Wilson tendo, como de costume nos personagens Allenianos, um bloqueio criativo em seus escritos e quer usar de uma visita a Paris para se inspirar. Seu passeio solitário pelas ruas revela uma passagem  no tempo que o leva para os anos 20, década dos sonhos do escritor. Daí por diante é uma montanha-russa de confusões clássicas do Sr. Allen, mas não por isso cansativas. Sempre um deleite, e este um de seus melhores deleites. Nota: 8,5

A ÁRVORE DA VIDA

Vou ser bem sincero. Não gostei muito desta obra de Malick, mas não gosto muito de Malick em suma. Com O Outro Mundo ele, pra mim, errou a mão nas pausas longas e tomadas infinitas buscando mais subjetividade que objetividade. A Árvore da Vida é bonito, tem a relação de uma família baseada no conflito pai e filho interessante, mas mais uma vez Malick se punheta. Tomadas lindas representando o surgimento da vida em todos os seus lados, depois da vida após a morte e é tudo lindo. Lindo mesmo, mas depois de 40 minutos vendo só belos papéis de parede, você fica sedento pela história que fica incompleta. Ainda assim interessante como um quadro renascentista, mas passar mais de 2 horas olhando o mesmo quadro, por mais bonito, cansa. Nota: 7,0

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domingo, 16 de outubro de 2011

NOVIDADES

Queridos, estou longe, mas estou cheio de projetos. Prometo em breve re-estreiar no blog com videos inéditos, personagens novos e mais atrações!!! Aguardem!!!

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