segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de HISTÓRIAS CRUZADAS

Hollywood gosta de nos fazer chorar de vez em quando. Seja com romances forçados na luta pelo amor perfeito e o universo conspirando contra, seja com pessoas heróicas que só querem fazer o bem e acabam sendo torturados pela dura realidade chamada vida, ou mesmo usando do plano espiritual na promessa de um amor além da vida, sempre somos pegos na necessidade de levar um lenço para a sala de cinema e sair de lá precisando de soro.
Portanto muito me agrada quando um filme te emociona sem precisar empurrar o sofrimento alheio goela abaixo ou mesmo ficar com closes profundos e canções mela-cueca para que você de fato se arrepie e verta lágrimas. Filmes como Flores de Aço, A Cor Púrpura, O Filho da Noiva e agora esse Histórias Cruzadas são assim. São lindos pela beleza de sua história em si, sem precisar serem melo-dramáticos.
Por sinal em muito este filme me lembra Flores de Aço. Seja pelo fato de ser comandado por mulheres (no longa se temos 5 atores é muito, perto de mais de 20 mulheres), seja pelo fato impecável de usar do humor para quebrar o drama e ser muito competente em tal. Assim como em Flores de Aço, é a vida dessas mulheres que vai nos envolvendo sem pressa, sem a necessidade de compaixão, mas com uma clareza de narração, uma vivacidade oferecida pelo grupo de atrizes (que ganhou merecidamente o SAG Awards de melhor elenco) e uma qualidade cinematográfica de encher os olhos.
A história do filme gira em torno de, basicamente, duas mulheres: Skeeter (a nova queridinha da América e ótima Emma Stone) - moça que está ficando pra titia e quer ser jornalista em plenos anos 60; e Aibileen (a fantástica Viola Davis, fez Dúvida) - empregada doméstica solitária que decide ajudar a moça em sua incursão jornalística. Skeeter precisa escrever dicas domésticas em seu primeiro emprego no jornal e, por não cohecer nada do assunto, pede a amiga que empreste sua empregada para auxilia-la, uma vez que sua empregada foi embora. Porém observando o tratamento que as demais empregadas domésticas recebem de suas afetadas e fúteis patroas, Skeeter decide escrever um livro contando a vida do ponto de vista das empregadas. Para tal, ela precisará que Aibileen ponha os medos de lado e junto com as outras empregadas, dêem seus depoimentos.
Dentro dessa premissa, muitas outras histórias se desenvolvem, talvez daí a escolha do título brasileiro equivocado, uma vez que o título original THE HELP, é o termo que utilizam para designar as auxiliares, ou as domésticas. Apesar da troca do título, o filme é de fato um cruzamento das histórias dessas empregadas e de suas patroas, enquanto acompanhamos a luta de Skeeter por ser ela mesma e a luta dessas mulheres sofridas em manterem seus empregos e sua dignidade em meio ao tempo da segregação.
O filme é belamente feito do início ao fim. Seja com a trilha sonora eficiente e bem pontuada, seja com a fotografia alegre e sulista, com o competente trabalho de ambientação, figurinos e maquiagem, é tudo de um primor maravilhoso. Além disso, o roteiro foi adaptado de maneira a preencher as quase duas horas e meia de projeção parecendo meia-hora, tamanho é o envolvimento com a trama e as personagens, essas sim a força-motriz do longa. Histórias Cruzadas tinha muita coisa que poderia torná-lo piegas e fraquinho. Uma mão errada na direção, um roteirista melodramático e atrizes exageradas poderiam ter posto tudo a perder. Mas ainda bem não temos nada disso aqui. Temos uma direção competentíssima, um roteiro equilibrado e atrizes empenhadas, talentosas e sábias em suas interpretações. Dentro das quais destacam-se, além das aqui já citadas, a excelente Octavia Spencer (da série Ugly Betty e filmes como Sete Vidas e Arrasta-me Para o Inferno) e sua enfezada Minnie, a praticamente novata Jessica Chastain (do também indicado ao Oscar A Árvore da Vida) que me surpreendeu pelo timing cômico perfeito, a outra surpreendente Bryce Dallas Howard (de A Dama da Água, Homem-Aranha 3 e Além da Vida) sustentando super bem a maléfica Hilly, Allison Janney (de Juno e Hairspray) como a mãe de Skeeter e a bonitinha da Sissy Spacek (a eterna Carrie) como a mãe esclerosada de Hilly. Isso é que elenco, hein?
Portanto reserve um dia em sua agenda e prestigie este que é sem dúvida um filme que agradará a todos. Diferente de alguns outros indicados os Oscar que são mais feitos para crítica que para público, Histórias Cruzadas é feito para todos aqueles que sabem a importância do respeito e o quanto a ignorância agride nossa sociedade. Um deleite, uma experiência que te fará sorrir, mesmo com lágrimas nos olhos.
Nota: 10

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