sábado, 11 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de O ARTISTA

Qual a importância da fala? Comunicação? Expressão? Algumas teorias apoiam a idéia de que é a capacidade da fala que nos define como seres racionais. A fala também é dissipadora de raças, é o que nos impede de sermos um mundo unificado, separando-nos por idiomas que tornam um cidadão de um país ininteligível para o outro, provocando até guerras, como na teoria da Torre de Babel. o fato é que a fala se tornou algo tão comum a nossas vidas que só percebemos o quanto ela importa quando a perdemos, quando ficamos roucos, por exemplo.
Mas quando perdemos a voz também percebemos o quanto somos desbocados, falamos sem medir e coisas tão desnecessárias. Filtramos nosso vocabulário para o essencial e valorizamos outros tipos de comunicação. A própria arte é, em si, classificada por várias maneiras de expressão: cantada, falada, desenhada, pintada, dançada. Mas todas elas comunicam algo. O cinema, desde seus primórdios, há mais de cem anos, até o final da década de 20 se comunicava sem falas, com atores cheios de expressões, mímicas, trejeitos e, quando necessário, uma ou outra fala ela posta em cartazes durante o longa, como conhecemos pelos famosos filmes de Chaplin. Porém tal ferramenta de comunicação, com o advento da tecnologia, aprendeu a inserir som ambiente na película, passando a ser falado, depois cantado e assim extinguindo esse estilo cinematográfico que fez surgir tantos artistas com a mesma intensidade que nos esquecemos deles quando foram substituídos por outros jovens de voz mais agradável.
O tema já havia sido discutido em filmes como Cantando na Chuva, musical baseado na história de um ator de filmes mudos que tem de se adaptar ao novo cinema e se apaixona por uma jovem dubladora de outra famosa atriz de cinema mudo, mas que precisa ser dublada pois é fanha. Os franceses aproveitaram de uma premissa igual, mas agora pondo como protagonista o ator que cresceu demais no cinema mudo e não acredita no cinema falado e seu romance com uma jovem atriz que entra no mercado falante.
O Artista já assume essa áurea desde seu visual, nostálgico, preto e branco, uma bela fotografia, instaurados figurinos, cenários e esse ambiente da Hollywood pré-queda da bolsa de valores, onde tudo corria conforme o previsto. Dentro desse ambiente já somos apresentados ao protagonista, interpretado brilhantemente e belamente pelo francês Jean Dujardin e sua fama calorosa. Depois conhecemos seu par amoroso, a típica mocinha sapeca que quer ser atriz e tem tino pra coisa. Daí pra frente seguimos os dois caminhos opostamente: o crescimento da carreira de Peppy, a novata no cinema falado e a queda de Valentin no cinema mudo e seu fracasso na vida pessoal e profissional.
O Artista segue de sua abertura até o lindo final um ritmo gostoso, combinado com uma trilha fantástica e um clima adequado para um drama com comédia e romance na medida certa. O filme é doce, é simples, romântico, nostálgico e contagiante do início ao fim. Até mesmo o cachorro do filme rouba a cena com seus truques e adestramento impecáveis, nos causando mesmo emoção nas cenas de solidão.
Mas o que faz de O Artista um marco no novo cinema não é seu enredo nem seu estilo, mas sua coragem e audácia ao provar que o cinema mudo ainda funciona. A tese de seu enredo, do fracasso de um cinema antiquado e monótono comparado a tecnologia é posto em cheque com um filme que, em pleno séxulo XXI, onde produções como Avatar enchem a tela da necessidade gráfica dos computadores e sons digitais, a essência do filme ainda está nesses dois elementos: os atores e o enredo. E isso é maestrado magnificamente por Michel Hazanavicius e seu grupo de competentes artistas, técnicos e interpretativos, neste que será um filme para ver e rever e um dos mais inesquecíveis dos últimos tempos. Um belo acerto, uma bela homenagem, um exemplo de respeito pela arte do cinema.

Nota:10

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