quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

OSCAR 2012 - Crítica de OS DESCENDENTES

Eu sempre gostei do trabalho de Alexander Payne. Desde Eleição, às Confissões de Schmidt e Sideways, o bacana de seus filmes é que sempre havia uma personagem que relacionávamos com alguém que conhecemos em nossa vida, seja um vizinho, um colega de escola, um tio, são sempre humanos e com suas características disfuncionais. Mas agora Payne acertou na mosca ao deixar de lado os estereópicos e ir na essência, no mais visceral e humano dos sentimentos e nos faz deixar de identificar o vizinho ou o amigo e passamos a nos identificar com a personagem. Ainda bem que pra isso ele contou com o talento (que me surpreendeu) do Sr. George Clooney.

A história de Os Descendentes é simples e eficaz. Numa família onde advogado workaholic mal tem tempo para as filhas e a esposa, eles precisam frear suas rotinas quando a mãe da família, Elisabeth, sofre um acidente de barco e entra em coma. Matt King (Clooney) tem que se desdobrar em mil então para controlar as filhas, uma adolescente problemática de 17 anos e uma menina de 10 que não consegue lidar bem com o fato, enquanto precisa resolver uma questão judicial que envolve a família toda e um pedaço (!) do Havai. Ainda dentro desse reboliço, duas notícias (que não contarei aqui para não estragar a santa e gostosa ignorância ao assistir ao longa) vão afundar mais esse precipício de emoções em que o protagonista da trama se encontra.
O filme tem tudo pra ser melancólico e não é. Isso parte devido ao decente, eficaz e inteligente roteiro também de Payne, que sem ficar piegas ou sem usar do mal-gosto insere piadinhas aqui e ali ou mesmo momentos cômicos, mas de uma sutileza que me fez lembrar aqueles momentos constrangedores nos velórios da família quando vemos algo que, em situação menos trágica, seria hilário. Junte também a isso a sábia decisão de utilizar o Havai, local que ligamos apenas com alegria, férias e gente sorridente como ambientação de um drama familiar, o que suaviza tudo. A trilha típica e folclórica por vezes ajuda muito, além de uma fotografia inevitavelmente alegre, que mantém o filme com esse pé de vida real e não permite que deprima o espectador, sendo o fato do coma em si depressivo o suficiente mas sem tambémk açucarar demais o filme.
Clooney nos entrega um Matt perfeito. Repito, perfeito. É raro vermos um ator que consegue dosar e carregar o clima, a atmosfera do drama e ser tão humano, tão dócil e tão homem ao mesmo tempo na tela. Em alguns momentos nos desespera ver a calma e a paciência com a qual ele rege aquele emaranhado de problemas e em seus momentos de tristeza, com suas lágrimas sinceras, a vontade é atravessar a tela e abraça-lo. Ele construi um pai com todo o respeito e peso que a personagem merecia e carrega o filme sem dificuldade nenhuma nas costas. A dupla de atrizes que fazem suas filhas ajuda muito e são muito qualificadas na função de adolescentes que demoram para compreender a vida e o que estão passando.
O filme decorre por suas duas horas sem problemas, sem cansar nem desinteressar, é lindo, comovente, humano, divertido, mas o mais importante: É SIMPLES. E na simplicidade encontramos um dos melhores filmes do ano, sem dúvida. 

Nota: 9,0

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