quarta-feira, 11 de maio de 2011

Crítica teatral - EVITA

Quem foi Evita Péron? Para alguns leitores, talvez não tenha sido ninguém. Para aqueles com um pouco mais de idade ou mesmo aos interessados em ícones mundiais ela foi a argentina mais famosa do mundo. Mas essa fama veio de onde? Santa? Esperta? Inusitada? Interesseira? As mil facetas da atriz baixinha de Buenos Aires foi o interesse de Andrew Loyid Webber ao criar um musical, ou como eu chamo uma ópera-latina sobre a vida da Ave Peronista.
Interessado em mostrar o Yin e o Yang da persona por detrás das belas fotos e filmagens, Webber inusitou ao colocar um outro ícone latino como seu corifeu. Na trama é Che Guevara quem faz as vezes de voz do povo, quem questiona a imagem e a integridade, até mesmo a idolatria àquela mulher cuja história é contada de sua mocidade até sua morte de câncer, aos 33 anos. Aliás, parece-me que 33 é uma idade boa para morrer e virar mártir, mas este já é um outro musical de Loyid Webber.
Evita foi grande na Broadway e recebeu uma decente montagem cinematográfica estrelada por outro ícone feminista, Madonna. No filme, os grandes cenários e locações na Argentina chamaram a atenção e criaram um estilo grandioso ao longa, além de tornar mais crível o fato de ser uma "biografia". E exatamente este fator é eliminado na versão brasileira dirigida por Jorge Takla e é o mesmo que o faz igualmente grandioso.
O cenário é basicamente formado por 3 paredes brancas enormes que formam uma espécie de cubo. Uma plataforma móvel quadrada no meio, algumas cadeiras, hora ou outra uma cama e nas paredes 2 níveis de portas que quando fechadas ficam imperceptíveis. Como destaque, projeções são feitas nestas paredes trazendo não somente fotos, mas filmagens reais de Evita Duarte Péron, que relacionam-se aos momentos que estão sendo interpretados e trazem essa sensação de realidade arrepiante. Mas a grandiosidade fica a cargo do elenco e dos figurinos.

O trio principal formado pelos atores Paula Capovilla, Daniel Boaventura e Fred Silveira são, respectivamente, Eva, Juan Péron e Che. Com uma preparação vocal invejável, presença de palco que preenche aquele espaço enorme e branco do Teatro Alfa e interpretação comovente em suas canções, os três dão o tom exato para segurar os 2 atos e convencem em suas personagens. Vi o espetáculo também com a Bianca Tadini, alternante no papel que apesar de nitidamente mais jovem, segurou bem as pontas. O jogo de impressões feito por Che e Evita, ela tentando a todo momento provar ser uma boa pessoa, ele questionando seus atos e a todo momento propondo uma imagem de interesseira funciona e tem ritmo por toda a peça.
Claro que além das canções famosas como Don't Cry For Me Argentina e You Must Love Me, devemos lembrar que este é um musical de Andrew Loyid Webber, portanto não existem falas. Da primeira cena à última todos os diálogos são cantados. Isso pode assustar o leitor ou memo causar uma reação prévia de desânimo, achando que será maçante ou mesmo incômodo. Mas garanto que não é. Nisso Webber e seu sempre parceiro Tim Rice sabem trabalhar (na minha opinião com exceção de Jesus Cristo Superstar que cansa) e fazem uma sequência ritmica, fluente e por vezes intensa que mantém não somente o ambiente mas vai progredindo junto com a vida da personagem e nos envolvendo. O único defeito é que por vezes o tom agudo das canções de Webber em coro fica praticamente inaudível e perdemos a letra da música, o que num teatro só cantado significa perder parte da história.
Como disse anteriormente, o figurino é outro trumfo. Vestidos copiados dos originais que vemos nas fotos de Evita, as roupas militares, os longos da aristocracia ornando estampas, tudo flue e dá uma magnitude que o cenário não tem mas que, dentro do proposto, funciona muito bem. Talvez se o cenário fosse suntuoso a roupa não seria tão notada. Mas é de tirar o fôlego cada vez que Evita surge com uma nova roupa, ilustrando sua progressão financeira e sua posição social.
E juntos, canções, cenário e figurinos caminham em harmonia para contar essa história de uma mulher que pode ser vista como uma das maiores oportunistas da história, ou como uma mulher que soube usar de sua posição para ajudar àqueles que estavam ao lado dela. Confesso que não pude deixar de comparar a história com a do ex-presidente Lula, que sai do povo e quando alcança o poder utiliza de presentes ( Fome-Zero, Bolsas e mais Bolsas) para esta mesma população. Uns podem achar humanista, outros, um dos maiores golpes para conquistar a imagem desejada. O fato é que Evita tem o carisma, a moda, o quase "conto-de-fadas" manipulado pela própria princesa e a grandiosidade que merece no palco do Teatro Alfa. Intenso, apaixonante e sincero, Takla conseguiu humanizar um mundo para nós distante e fazer isso com a classe que um musical de Webber merece.

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