sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Crítica - A ORIGEM


Sabe quando nós temos um sonho tão complexo e cheio de detalhes que quando acordamos nos surpreendemos com ele, e por vezes nosso cérebro começa a confundir os fatos sonhados e vividos? Pois bem, imaginem então que algumas pessoas fossem treinadas para construir o ambiente destes sonhos, sua complexidade, se conectar ao seu sonho e manipula-lo a seu bel prazer. Você pode pensar, ok,  mas mesmo se eu tivesse pessoas acompanhando meus sonhos, ainda são só sonhos... Sim. Mas sonhos fazem parte do subconsciente, local aonde também guardamos segredos e informações que ninguém pode acessar. 


A premissa de A ORIGEM é essa. Uma equipe especializada em roubar informações do subconsciente através dos sonhos. Tal tarefa é feita em equipe pois a construção desta ilusão depende de etapas. Uma pessoa precisa construir a ambientação do sonho, chamado de ARQUITETO, uma pessoa precisa comandar o sonho e colocar personagens nele, outro é responsável pelo acompanhamento do sonho internamente e outro fica no mundo real, esperando o momento certo de despertá-los. O enredo do filme ganha força quando esta equipe, agregada de um ajudante que consegue se passar por pessoas que tem um vínculo pessoal com quem será "mentalmente assaltado" e um químico responsável pelo produto que os leva ao sono profundo precisa fazer o inverso de roubar uma idéia... precisam implantar uma idéia. Junte esse elaborado tema a uma vilã que vive no inconsciente do protagonista e o confunde em suas missões e você tem a base para acompanhar a trama desse evento cinematográfico de Christopher Nolan. E o leitor não precisa se preocupar, tudo isso é só o começo...
Nolan sempre mostrou interesse com o universo da ilusão, do sono, se analisarmos sua filmografia temos Amnésia, onde a personagem tatua fatos importantes que lhe fogem da memória sempre que ela volta pro mesmo dia de sua vida, Insônia, com um Al Pacino que não consegue dormir e os efeitos disso na sua sanidade para pegar um criminoso, O Grande Truque que mexe com a ilusão de maneira a nos confundir entre o truque e o surreal... todos são provas de que Nolan gosta desses sintuosos e complexos caminhos mentais. Com sua mão em Batman, ele aprendeu a unir o psicológico a ação bem feita, grandiosa, complexa e que consegue ser ágil e nos contar uma história, montar um quebra-cabeças gostoso de ver. E ele provou ter aprendido tudo isso de maneira magistral em seu A ORIGEM.
Não somente o roteiro é criativo, diferente de tudo o que já foi feito, apesar de lembrar um pouco Matrix, mas achei particularmente mais interessante e menos "absurdo", mas o outro elemento essencial da qualidade de A ORIGEM é o elenco. Leonardo DiCaprio não só é um excelente ator, mas tem o carisma e a intensidade necessárias para assumir um complexo protagonista que precisa nos fazer compreender a história central e sua história pessoal. Ellen Page (de Juno e X-Men) mostra que tamanho não é mesmo documento dando grandiosidade e inteligência a sua arquiteta. Joseph Gordon-Lewitt (500 Dias com Ela, 10 Coisas que eu Odeio em Você) também recebe uma grande chance num papel interessante e que recebeu grandes cenas de ação, e junte ainda Cillian Murphy, Ken Watanabe, a ótima Marion Cottillard, o simpático Tom Hardy, Tom Berenger e Michael Caine e você terá um enorme motivo para ir aos cinemas.
A Origem não é só inteligente, é ágil, é bem explicado, é bem amarrado, um labirinto, como o roteiro mesmo tanto diz complexo mas bem desenhado que nos leva em sua intensidade até seu clímax certeiro e inteligente. O filme não corre, mas ao mesmo tempo não deixa perder seu ritmo. Diálogos precisos, inteligentes e que permite a construção das personagens num fluxo agradável e compreensível. O filme não é simples, mas não é confuso... é complexo. E em meio a tantas produções óbvias, e quando não óbvias vindas de livros ou quadrinhos que todos já conhecemos, é muito gostoso ir aos cinemas e ser surpreendido. E para sustentar esse belo roteiro, o espectador pode contar com efeitos especiais de cair o queixo, ambientação e fotografia belíssimos e cenários absurdos de tão detalhistas e você tem um dos melhores espetáculos cinematográficos dos últimos tempos.

Nota: 10

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