quarta-feira, 14 de julho de 2010

10 Verdades sobre... Atores Coadjuvantes

Eles surgem no filme com um personagem que não aparece toda hora, mas que de alguma maneira se tornam inesquecíveis. Seja pela sua importância no enredo (como imaginar Titanic sem as artimanhas do noivo de Rose), seja pelas falas divertidas e base para a personagem principal (Luke Skywalker depende de Hans Solo) ou mesmo por uma interpretação que nos comove em poucas linhas. Hoje destacarei os 10 últimos trabalhos laureados com um Oscar nessa categoria, comentarei se a premiação foi justa ou se naquele ano outro merecia o prêmio, em minha opinião. E você pode aproveitar, não só pra relembrar essas célebres interpretações, como buscar assistir aquelas que ainda não conhece. Então pega seu caderninho, põe a pipoca no microondas e me acompanha!

#2001 - BENICIO DEL TORO - TRAFFIC

O controverso filme do diretor Steven Sodemberg, que no mesmo ano foi indicado também por Erin Brockovich, que particularmente gosto mais, chamou a atenção por ser um filme corajoso ao tratar o assunto do tráfico de drogas e da corrupção de maneira nua, crua e honesta. Junto a isso, interpretações inspiradas, como de Catherine Zeta-Jones no papel de uma esposa da high-society que vai descobrindo que sua fortuna não vem de meios lícitos, e o premiado Del Toro, fazendo um policial da fronteira mexicana, que precisa lidar com o tráfico ilegal, a corrupção e a criminalidade, sem querer se envolver com isso, mas sem poder dar uma de herói. Benicio tem uma interpretação segura, humana, não é o mocinho, mas não quer deixar a podridão o transformar em um bandido. Eu gosto dos trabalhos de Del Toro, são medidos e intensos num balanço muito bom. Confesso que naquele ano torcia por Joaquim Phoenix e seu imperador maligno de Gladiador, mas não tiro o mérito de Del Toro, com um personagem pequeno, roubar a cena.

#2002 - JIM BROADBENT - IRIS

Jim Broadbent é um dos meus atores britânicos favoritos. Para quem não o conhece, ele é o professor Horácio Slughorn de Harry Potter e o Enigma do Príncipe e o pai de Bridget Jones. Seu rosto paternal e quase imaculado, lembra um padre, e esconde por gestos e olhares incisivos interpretações magistrais. Uma delas é seu papel de marido da escritora Iris, interpretada pelas atrizes Kate Winslet, na juventude e Judy Dench na velhice, o que já faz o filme merecedor da sua atenção. Filmes britânicos são conhecidos por uma história que não tem muita ação, mas cujas interpretações e diálogos fortes sustentam a trama. E Iris é exatamente isso. Pra quem  não conhece a história, Iris é uma escritora que sofreu do mal de Ahlzeimer, e o filme mostra todos os passos dessa doença degeneratica, e é através do marido que temos uma lição de amor, ao suportar o esquecimento, as crises, os surtos de Iris e estar ali, paciente, do seu lado. Um filme lindo, um Oscar merecido, embora meu favorito do ano fosse Ian McKellen e seu poderoso Gandalf, no primeiro Senhor dos Anéis.

#2003 - CHRIS COOPER - ADAPTAÇÃO

Ok, confesso que não sou muito fã desse filme do diretor Spike Jonze (de Onde Vivem os Monstros e Tenacious D), primeiro que é de uma maluquice complicadíssima, tal qual o seu outro Quero Ser John Malcovich. O filme fala sobre o roteirista do filme que você está assistindo, seus problemas com seu irmão gêmeo irritantemente folgado (interpretado ambos brilhantemente por um Nicolas Cage quase irreconhecível) e seu problema para escrever esse filme que estamos vendo sobre o tráfico ilegal de Orquídeas clonadas pela personagem de Chris Cooper, essa história é retirada do livro da personagem vivida por Meryl Streep. O legal de filmes malucos é que você depende de um elenco afiado para te divertir, como acontece em Adaptação. O filme é o elenco. Cage está brilhante, Meryl como sempre, segura e num papel divertido e Cooper segura as pontas da loucura com brilhantismo, entregando um papel descontrolado, mas com uma segurança e uma verdade ótima, especialmente quando a vida real do roteirista invade a ficção do filme. Um exercício interessante. Mais uma vez, meu favorito era outro, Ed Harris e seu escritor com Aids em As Horas, que me comove sempre que vejo, mas Cooper não deixa por menos em competência.

#2004 - TIM ROBBINS - SOBRE MENINOS E LOBOS

O primeiro da lista que concordo com a premiação. Num ano de filmes medianos, o drama investigativo do sempre competente Clint Eastwood não só conta uma história de crime e castigo, passado e presente se confrontando de maneira brilhante, como traz um punhado de interpretações de arrepiar, como a do pai Sean Penn, as esposas Marcia Gay-Heart e Laura Linney e a do premiado Tim Robbins, no papel de um homem que, quando menino foi sequestrado e violentado, abandonado pelos amigos da época, e anos mais tarde precisa enfrentar esse passado cruel durante a investigação do assassinato da filha de Sean Penn. Tim Robbins entrega um homem frágil, machucado pelo passado, intenso, lindo de assistir. O filme todo é um presente para o público e a trama muito bem amarrada, aonde mescla-se ao tema principal questões sérias como pedofilia, sem ser forçado. Imperdível.

#2005 - MORGAN FREEMAN - MENINA DE OURO

Mais uma obra incrível do mestre Clint, mais um banho de Oscars, e merecidos mais uma vez. Não vou negar que tenho um carinho pela personagem de Clive Owen em Closer, também indicado no mesmo ano, mas o auxiliar interpretado por Morgan Freeman, não é só comovente, humano, é a figura que representa o carinho, a bondade, é quase o anjinho no ombro de Clint Eastwood no filme em que ele treina a inexperiente garçonete feita belamente por Hillary Swank para ser uma pugilista de primeira. Mais uma vez, Clint mostra habilidade ao usar uma trama principal para envolver assuntos peculiares como a perda da fé e a eutanásia. Tudo de maneira intensa e verdadeira. 

#2006 - GEORGE CLOONEY - SYRIANA

Ok, eu torcia para Jake Gyllenhaal, que se entregou a um personagem que era puro coração em Brokeback Mountain, mas George Clooney conquista um dos primeiros papéis intensos de sua carreira e passa o pão que o Diabo amassou, cuspiu e esfregou no chão nesta obra sobre a guerra do Petróleo, unida a questão do terrorismo no Oriente Médio e as negociações por trás do panos governamentais. Syriana é um filme muito bem realizado, eloquente, forte, quase uma aula sobre o assunto, mas talvez por ser um tema vivenciado mais intensamente pelos americanos do que pelos brasileiros, aqui não foi muito assistido. Não que seja ruim, pelo contrário, mas é como querer que os americanos gostem de nossas comédias nordestinas. Simplesmente não faz parte da vida deles, assim como o assunto do Oriente Médio é distanciado da nossa vida. Mas Clooney entrega uma intepretação precisa como agente da CIA que se vê no meio de uma politicagem que não o favorece na investigação terrorista e se vê como refém destes. O bicho apanha, sofre, e merece seu Oscar.

#2007 - ALAN ARKIN - PEQUENA MISS SUNSHINE

Este ano eu estava no estilo quem ganhar, ganhou. Todos os indicados, entre eles Eddie Murphy por Dreamgirls, Djimon Hounsou por Diamante de Sangue e Mark Wahlberg por Os Infiltrados, todos foram muito bem e em estilos totalmente diferentes. mas o avô linguarudo, estressado e ao mesmo tempo amoroso que o veterano ator, conhecido atualmente pelo papel de chefe do Agente 86 não rouba a cena completamente graças a encantadora Abgail Bresslin, mas se torna uma figura inesquecível nesse filme maluquinho, humano e belo. Além de mostrar fortemente a figura do idoso ignorado pelos familiares, muitas vezes. Lindo filme, linda interpretação.

#2008 - JAVIER BARDEM - ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

O prêmio foi mais que merecido. Eu adoro Bardem, acho ele um ator que não somente se entrega ao personagem, como consegue ultrapassar barreiras como idioma e estilo cinematográfico brilhantemente. quem nunca o viu no filme MAR ADENTRO, precisa conhecer esse trabalho aonde ele faz um tetraplégico que nem falar consegue. De arrepiar. E nesse suspense western dos irmãos Cohen, ele não só sustenta a trama como um psicopata assustador, com seu cabelinho de Beiçola de A Grande Família, olhar intenso e descontrolado, e seu método de matar cruel e brutal, mas sua habilidade de sustentar uma personagem que não fala (!) e só no olhar nos mostra suas intenções. É incrível.

#2009 - HEATH LEDGER - O CAVALEIRO DAS TREVAS

Eu não ousaria dizer que Ledger não mereceu este Oscar. Seu Coringa rouba a cena, é visceral, divertidíssimo, irônico, descontraído, e um dos casos mais incríveis aonde vemos um ator a vontade demais em um papel de criminoso maluco, algo anarquista, contestador, figura do Caos, e de uma precisão brilhante que fizeram deste filme do Batman um dos melhores filmes da década. Confesso que, se não fosse Ledger, o padre intenso de Phillip Seymour-Hoffman em Dúvida merecia todos os aplausos, é brilhante também. Mas ledger mereceu ser laureado por todos com este exemplas magnífico do que é construir uma personagem que todos já conhecíamos, de uma maneira nunca antes vista.

#2010 - CHRISTOPH WALTZ - BASTARDOS INGLÓRIOS

Este ano, em entrevista ao David Letterman, o próprio indicado Matt Damon pelo ótimo Invictus, disse que estava ensaiando os aplausos e a cara de perdedor para Waltz. Realmente não tem pra ninguém. O general completamente insano, engraçadíssimo, cruel e calculista de Waltz é o brilho que permeia essa obra fantástica de Tarantino. O filme por si só é imperdível ao tratar do nazismo da maneira brilhante que trata, ao mostrar um grupo de americanos e judeus que criam estratégias para matar os malditos nazistas. Unido a isso, uma trama de vingança de uma judia que viu sua família ser assassinada pelo general de Waltz amarram o enredo. Waltz consegue ser tão divertido num papel maldoso que se torna irresistível não gostar dele! Mais um exemplo de pessoa a vontade em seu papel e de uma interpretação precisa.

Espero que tenham gostado do resumão e voltamos em breve com as atrizes coadjuvantes, e procurem conhecer os trabalhos acima!

Um comentário:

LuEs disse...

Gostei muito do seu post, acho mesmo muito interessante comentar sobre as escolhas da Academia. Seguindo o seu exemplo, você comentar rapidamente o que eu acho aqui:

2001 - gosto do trabalho de todos os atores, mas acho que naquele ano eu concederia o prêmio a Joaquin Phoenix.

20002 - o único ator cuja atuação eu vi foi Jim Broadbent, então, não tenho parâmetros para comparação.

2003 - Ed Harris estava intenso e eu facilmente o premiaria!

2004 - dúvida cruel: Tim Robbins ou Denício del Toro? Ambos realizaram performances elogiáveis e destacam-se maravilhosamente bem!

2005 - gosto das atuações de Morgan Freeman e de Clive Owen, mas o primeiro fica com o prêmio, ele está magnífico.

2006 - acho a vitória de George Clooney um erro. Eu premiaria Jake Gyllenhaal, que está muito mais adequado em seu personagem.

2007 - ano difícil, Djimon e Earle Haley estão ótimos e eu premiaria um deles.

2008 - Javier Barden, inquestionavelmente.

2009 - assim como você, se Heath Ledger não estivesse ali, o premiado seria Philip Seymour Hoffman.

2010 - ainda não conferi todos os indicados, vi apenas Tucci e Waltz e realmente não me agrada totalmente a interpretação do vencedor do Oscar.

Parabéns pelo excelente post.