sexta-feira, 4 de junho de 2010

Crítica - Preciosa

O Oscar, há alguns anos, coloca no meio de seus quatro indicados de peso, filmes com grandes astros e diretores, um filme mais independente, porém com uma história e atuações que transforme esse filme simples em algo memorável ou, pelo menos, respeitável. Este ano mesmo, foi o filme independente que venceu Avatar e transformou Katherin Bigelow em queridinha por seu corajoso Guerra ao Terror.
Este ano o Oscar trouxe um costume antigo e indicou dez filmes a categoria principal, ao invés dos costumeiros 5 candidatos. E isso abriu uma oportunidade de um segundo filme independente mostrar seu talento. Este filme foi Preciosa - Uma História de Esperança. Drama do diretor Lee Daniels, que antes só havia dirigido o filme Matadores de Aluguel, com Cuba Gooding Jr, e que mostrou ter uma sensibilidade incrível quando o assunto é humanizar um personagem.
Sua direção segura e ao mesmo tempo delicada possibilitou que duas atrizes inexperientes no gênero, a primeira uma estreante, Gaborey Sidibe, que em seu primeiro trabalho foi indicada a todos os prêmios possíveis e Mo'Nique, mais conhecida apenas em comédias, que criou um monstro que lhe agraciou com quase todos os prêmios da indústria. E que fique claro, todo esse prestígio foi mais que merecido. Ambas atrizes mergulham em seus personagens de tal forma que nos faz sofrer junto à menina que engravidou pela segunda vez por estupro de seu próprio pai (sim, o pai, não padrasto) e sua mãe, consciente dos estupros, ainda culpa a filha por ser mais desejada pelo marido que ela e a maltrata, espanca, xinga, e nos dá a personificação da pior mãe da história do cinema.
Preciosa é uma menina sonhadora e isso fica claro durante o filme quando esta tem seus devaneios enquanto sofre injúrias. Seu problema está em vários pontos: ela não tem dinheiro, é menor de idade, mãe de uma criança deficiente mental e grávida da segunda, expulsa da escola, semi-analfabeta, mãe violenta, ela é gorda e negra e sofre com o preconceito das ruas violentas de seu bairro.
A história do filme é mostrar como ela sairá desse inferno em que vive e se existe, de fato, uma solução pra isso. Entram questões como pedofilia, alfabetização, violência doméstica, os subúrbios americanos, tudo muito bem dosado e mostrado sem querer ser sensacionalista. Humano, sincero e tocante.
O filme tem uma reviravolta, que não contarei qual, mas que permite que a história não perca o ritmo e é bem finalizado. As participações dos demais atores são consistentes e preenchem o enredo e tudo vai se enlaçando com harmonia. Se é que o filme tem um defeito, talvez seja a linguagem dos personagens, pesado, cheio de palavrões, mas compreensível pelo meio social e situações vividas, mas isso às vezes incomoda o espectador mais conservador. Porém não há nada que o impeça de ver um dos filmes mais humanos dos últimos anos. O que é pior é ver espectadores, durante os prêmios da Academia, se perguntando o que aquela menina tão gorda e estranha fazia na premiação... o que só prova a verdade que o filme conta. Somos uma sociedade que precisa evoluir muito e aprender a respeitar o próximo é o melhor caminho pra isso.

Nota: 9,5

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