segunda-feira, 31 de maio de 2010

10 Verdades sobre... a fotografia no Cinema

Existe um fator determinante para a qualidade de um filme, assim como para a ambientação de época, de intensidade de cenas e determina o chamado "clima" de cada cena e do filme em si. Esse fator é a fotografia. Pra quem não é especialista ou simplesmente nunca reparou, quando um filme vai para as telas, sua imagem sofre alterações em seu colorido, no brilho, na intensidade de luz, posição das câmeras, e isso envolve tanto um trabalho gráfico quando um trabalho de cenógrafos e figurinistas que precisam escolher as ambientações e cores que influenciem na imagem deste filme. O Oscar sempre premia a categoria, que eles chamam hoje de Best Cinematography (Melhor Cinematografia). Hoje comentaremos os 10 últimos vencedores do prêmio e explicaremos as verdades sobre estes escolhidos, para que você passe a reparar mais nessa arte.

#01 - 2001 - O TIGRE E O DRAGÃO

Talvez um dos mais claros exemplos do poder da fotografia e que fique mais evidente a olhos leigos. Ang Lee usou e abusou das cores que identificam cenas, que recebiam uma ambientação marcante ora em vermelho, em verde, em branco, em amarelo, azul, e suas imagens de plano amplo, aonde nas lutas não se focava apenas os 2 combatentes, mas também todo o cenário, com imagens que acompanhavam a velocidade da cena sem perder detalhes, foi de perder o fôlego.

#02 - 2002 - O SENHOR DOS ANÉIS - A SOCIEDADE DO ANEL

O filme de Peter Jackson tem uma ambientação tão característica, que sempre ao passar na tv, mesmo que você coloque em uma cena aonde não aparece nenhum protagonista, você diz: é O Senhor dos Anéis. Isso porque o filme é preciso no uso das cores, que mesclam tons terra na cidade dos Hobbits, tons quentes e escuros nas cenas de Sauron e seu exército, o cinza em cenas de perigo irrigelante, o azul vítreo dos elfos, que escurece na cena com Galadriel, enfim, é a utilização de cores e luzes que criam o clima na medida certa, além de tomadas amplas, que possibilitam nos sentir num universo inexistente de maneira tão crível. Notória também as mudanças de cenas, quando a câmera ampliava até que pudéssemos ver quase um retrato da região inteira aonde se passava a cena.

#03 - 2003 - ESTRADA PARA PERDIÇÃO

O filme com Tom Hanks e Paul Newman foi visto por poucos brasileiros, mas nem por isso seja ruim. Pelo contrário, é um belo drama que envolve máfia e uma história de pai e filho muito emocionante. a fotografia chamou a atenção pela ambientação da época, os tons etéreos de azuis, verdes e cinzas sujos, que eram floreados pela ambientação chuvosa. Em cenas mais emocionantes, o uso do amarelo com preto identificam a tensão, e uma filmagem inteligente, que por vezes segue os olhos do garotinho, por vezes parece chegar por cima, sempre espreitando.

#04 - 2004 - MESTRE DOS MARES

A superprodução perdeu todos os prêmios possíveis para o arrasta-quarteirão O Retorno do Rei, parte final da trilogia do anel do Frodo. Mas este prêmio não tinha como não ser dele. O ambiente escuro, iluminado por velas, bombas, por vezes uma penumbra azulada que nos remete a cor do mar, e quando em terra o verde que não era tão intenso pelo sempre acizentado que mescla azul e amarelo que acompanha o filme nos dá o clima certo de um filme histórico em sua essência. Em tempo, a utilização das câmeras foi na medida certa. Amplas em cenas de diálogos que contassem a história, flutuantes e ágeis nas cenas de batalhas.

#05 - 2005 - O AVIADOR

Martin Scorcese teria tido o Oscar de sua vida se não fosse por Clint Eastwood e sua Menina de Ouro. Mas tods superprodução capricha, e Scorcese sempre é um caso à parte quando o assunto é beleza cinematográfica. O Aviador é feito na medida certa para o clima de biografia de um homem rico, numa época glamurosa. As imagens acompanham o personagem de Leonardo DiCaprio muitas vezes como vindo de seu ombro, e se ampliam mostrando os soberbos ambientes, como casas de show, cinemas e estúdios grandiosos da Era de Ouro. Os tons dourados dão o requinte do filme, e o fato deste mesmo dourado ir escurecendo à medida que o protagonista vai enloquecendo, e perdendo a amplitude, ficando apertado, escuro, quase claustrofóbico é perfeito.

#06 - 2006 - MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA

Já disse aqui no blog que sou fã da fotografia dos filmes de Rob Marshall, mesmo diretor de Chicago. O filme pode não ficar perfeito, mas é uma obra de arte. Gueixa é um deleite aos olhos. As cores que dosam desde o clima frio, triste da protagonista, aos tons fortes e contagiantes da cultura gueixa. Os florais, as imagens que dançam junto com elas, vão de detalhes das mãos, olhares, ao cenário, a platéia de ricaços, tudo num ritmo quase musicado. A câmera é leve, flutua como os pés de uma gueixa. As cores e a iluminação, com focos de luz nos locais certo e escuridão misteriosa e requintada fecham com chave de ouro.

#07 - 2007 - O LABIRINTO DO FAUNO

O suspense de Guillermo Del Toro surpreendeu a todos não somente pela história, uma fábula contagiante e original, mas pelo clima sombrio na medida certa. E esse clima é formado por uma fotografia exata nos tons escuros, nos cinzas e azuis, e quando em momentos burlescos abusa do amarelo e verde. O tom quase chuvoso do filme todo acompanha a tristeza da protagonista e ganha cores quando ela passa para seu mundo mágico, o genial é que é um colorido sujo, o que nos dá a mesma sensação da personagem, de desconfiança e medo.

#08 - 2008 - SANGUE NEGRO

O filme que teve entusiastas e pessoas controversas, que eu particularmente achei inteligente, original e preciso em seus diálogos, soube criar o clima certo para uma história que não tem um herói, e não acompanha a vida de um homem justo ou decente. Devido a isto, o filme é sujo. Mas sujo como petróleo misturado à terra. Por isso a inteligente mistura de preto com marrom e laranja sempre presentes. Até o sol é escuro, e as filmagens amplas, mostrando terras inexploradas, grande ambição da personagem de Daniel Day Lewis. As câmeras também criam o clima de austeridade da personagem principal, filmando os demais personagem de cima pra baixo e ele em ângulo reto.

#09 - 2009 - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO

Danny Boyle fez o filme de sua vida. Quem quer ser um milionário não é somente delicioso de assistir, humano no último ponto e no ritmo perfeito, como uma fotografia que não somente respeita a cultura indiana, como ambienta perfeitamente a sugeira das favelas, a obscuridade do mundo do tráfego, o clima de suspense do quiz show, o colorido vivo e romântico dos encontros do casal de protagonistas, tudo ambientaliza na medida certa. A personagem de Freida Pinto é iluminada quase como um sonho, a câmera é acelerada, corre na altura de cada ator, quando são as crianças, nos sentimos do tamanho delas, as vezes espreita e circula as personagens, mostrando não somente os atores, mas o local aonde estão sem cortes, num ritmo preciso.

#10 - 2010 - AVATAR

Indiscutível o prêmio. Avatar pode não ter agradado os senhores da Academia, que preferiram a crueldade nítida de Guerra ao Terror, mas é inegável o talento de James Cameron para criar um mundo nunca antes visto, com tão inteligente uso de cores, que até agora distinguimos nitidamente. O azul dos Avatares, os coloridos das plantas, a fluorescência da noite em Pandora, o cinza metálico da unidade dos militares, as câmeras voadoras, usando precisamente o recurso 3D unido a filmagens amplas, que nos davam detalhes desde a pele e cabelo das personagens, como das plantas, do céu, do planete inteiro.

Espero que o texto tenha lhe trazido um esclarecimento sobre a importância da fotografia de um filme e que ajude a identificar agora tal beleza nas produções contemporâneas.

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