sexta-feira, 23 de abril de 2010

Crítica - Alice no País das Maravilhas




Ser diretor de cinema pode te destacar de várias maneiras. Alguns pela precisão das atuações, como Kubrick, outros pela intensidade dos diálogos, como Scorcese, alguns pela naturalidade de seus diálogos, como Woody Allen e outros pela criatividade, como Tim Burton. Quando vemos que um filme é do Tim Burton já sabemos que o filme terá uma identidade única, porém com um visual que nos faz pensar: É um clássico Tim Burton.
Sua última incursão por Hollywood, Alice no País das Maravilhas, mantém essa tradição. É óbvio desde o início ser um filme de Tim Burton. A linguagem, com um humor discreto, e por vezes nonsense, os visuais exagerados na medida certa, se é que existe tal eufemismo, emprega-se no perfil do diretor. Mas também temos o dedo de sua produtora, os estúdios Walt Disney, para lembrarmos que ainda é, afinal de contas, um conto Infantil.
Lewis Carroll criou com seus livros sobre Alice um mundo mágico que surge da imaginação de uma criança. Burton vai além, trazendo no roteiro de Linda Woolverton uma possibilidade diferente. Afinal um mundo tão cheio de detalhes e personagens complexos pode vir da imaginação de uma criança? É esse questionamento que paira na mente da crescida Alice do filme. Porém, o universo de Carroll está lá, bem fiel a seus livros, com personagens bem construídos, e com uma linha inovadora que não nos faz sentir que estamos vendo "mais do mesmo".
Alguns críticos estão enfáticos em pontuar como defeito o fato do filme ter ficado infantil. Mas o leitor há de convir que um filme baseado num desenho da Disney, produzido pela própria, não haveria de ser bizarro ou sombrio, como muitos esperavam de Burton. Existem pontos sombrios, que causam um certo desconcerto, mas na medida certa para não quebrar o clima fantasioso do longa.
Perfeito? Não, o filme tem um ritmo por vezes repetitivo, um enredo simples, e creio que peca por comprar a idéia de que todos já conhecemos as personagens da trama, o que é um erro se pensarmos que é um filme feito para as crianças de hoje, aonde muitos não conhecem as histórias de Carroll. Os atores estão se divertindo em seus personagens, Depp como costume se desprende de casualidades e medos e faz um Chapeleiro carismático e complexo, por vezes. Creio que o destaque vai para Anne Hathaway (Agente 86) que deu vida a uma personagem desconhecida, a rainha branca, com nuances e detalhes deliciosos.
O filme tem o porém de às vezes viajar muito em sua própria maluquisse, mas se pensarmos bem, essa é a chave das obras de Carroll, nossa própria maluquisse.
O final do filme é bem satisfatório e completo, prova de que o filme não teve pressa em contar ao que veio. Um filme gostoso, divertido, mas vale lembrar: vá ao cinema sem esperar algo revolucionário, assustados, uma Alice gótica, sangue e batalhas... não é nada disso. É uma criação Disney, com todo o brilho e mágica que compete ao estúdio.

Nota: 8,5

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