segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Crítica - O DISCURSO DO REI - Oscar 2011


O que é necessário para fazer um grande filme? Se essa pergunta fosse respondida por um norte-americano, pensando nos oscarizados James Cameron e Spielberg, a resposta seria: grandes efeitos e histórias fantásticas, mesclados com cenas que tiram o fólego do espectador. Porém, se respondido por um diretor britânico, a resposta seria: grandes histórias sobre pessoas como nós, interpretadas por grandes atores e atrizes. E quando se assiste O Discurso do Rei, ou mesmo os outros indicados desse ano como Cisne Negro e 127 Horas, você passa a dar mais razão para nossos polidos amigos de Gales.

O premiado filme (grande vencedor do SAG Awards desse ano e com mais indicações ao Oscar) conta a história real de George, ou Albert, ou Bertie para os íntimos (Colin Firth) , filho do rei George V que sofre de um mal muito conhecido: a gagueira. Conviver com isso nunca foi tão incômodo até que o rei, já doente, começa a indicar que Bertie seria melhor rei que seu irresponsável irmão David, o sucessor real ao trono. Bertie se preocupa com o fato de que o rei agora discursa pelo rádio e em frente à população, e que rei poderia passar confiança em seus discursos sendo gago? Para tal, ele e a esposa (Helena Boham-Carter) procuram vários fonoaudiólogos sem sucesso, até encontrar o heterodóxo Lionel (Geoffrey Rush) que pode ser o único a compreender a gagueira e achar uma solução para seu problema. Não vou me aprofundar mais, pois pequenas reviravoltas acontecem que dão mais sabor ao excelente roteiro.
O Discurso do Rei poderia sim ser um filme cansativo se pensarmos que sua história se baseia numa série de consultas fonoaudiologicas para ajudar um príncipe. Mas o competente roteiro que mescla os problemas políticos do país com a confusão que é a vida pessoal da monarquia, os problemas de infância de Bertie e a vida do fonoaudiólogo dão ritmo e mantem tudo interessante. Outra grande vantagem é o delicioso humor tipicamente britânico, incisivo e polido, presente em boa parte do longa, que garante um clima irreverente e divertido o filme todo.
Mas nada disso funcionaria se não fosse o incrível elenco. Colin Firth está impagável e perfeito como Bertie. Ele consegue passar uma gagueira tão perfeitamente que chega a incomodar e dar agonia em seus momentos de tensão. Tensão por sinal transmitida da cabeça aos pés do irriquieto e reprimido personagem, que se incomoda com momentos de descontração e é visivelmente forçado por seu subconsciente a se controlar pra não sair gritando e quebrando tudo. Nesse quesito Firth é preciso, garantindo uma construção física, vocal e psicológica que compõem um personagem que poderia ser simplesmente cômico, mas é cheio de vida. Geoffrey Rush mais uma vez prova sua competência e nos entrega um Lionel que é a irreverência, a coragem e, em prosa, tudo aquilo que Bertie precisa ser, com um humor e uma intimidade que é incomum na vida de um monarca e que garante diálogos deliciosos, além de um constante olhar de carinho e afeição que conquistam o público. Helena Boham-Carter garante uma leveza, uma sinceridade e um carinho à seu marido no papel de Elisabeth que demonstra ser o porto-seguro do titubeante George. Esses três grandes atores tecem a história com uma tal leveza, mas ao mesmo tempo com uma segurança e vontade que nos faz mergulhar de cabeça no filme. As participações de Guy Pearce como David, Michael Gambon como George V e Timothy Spall como Churchill completam a competência do time.
Em suma, O Discurso do Rei vem mais uma vez enfatizar o que sempre digo aqui, grandes filmes precisam somente de grandes histórias e grandes personagens. Nesses dois pontos, o filme é sublime e meu favorito ao Oscar do ano.

Nota: 10

Um comentário:

Anônimo disse...

De fato uma ótima crítica Gama, parabéns. Apenas corrija a parte em que mencion o título como 'O Retorno do Rei'...

João Thiago