sexta-feira, 14 de maio de 2010

Crítica - O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus



Qual lugar deste mundo ou da nossa história permitiria a um filme ir aos extremos das possibilidades de cenários, figurinos, personagens e soluções para seus problemas? Nenhum lugar real. Portanto, nada mais coerente que usar a imaginação para poder sustentar uma história incrível no sentido puro da palavra: algo não-crível, fora da realidade.
Tal universo, venhamos e convenhamos, é algo que combina mais com o diretor Terry Gilliam (Os 12 Macacos, Os Irmãos Grimm) do que roteiros mais... sensatos. Gilliam tem como padrão fugir do imaginável, às vezes ser incoerente em sua própria imaginação, e criar aqueles filmes louquinhos que exige um grande desprendimento de eloquência para podermos embarcas em suas histórias.
Confesso que com 12 Macacos, primeiro trabalho que vi do diretor, era muito jovem para compreender tamanha complexidade, e me entertive com as excelentes atuações de Willis e Pitt. Mas a história me deixou boiando. Hoje, maior e com mais bagagem cinematográfica, quando sei que é um filme de Gilliam vou aberto a possibilidades impossíveis, até então.
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, último filme de Heath Ledger tem como base um doutor em magia negra, interpretado pelo veterano Christopher Plummer, que é imortal devido a um pacto com o Diabo, que, junto a uma trupe formada por jovem entusiasta, anão mal-humorado e sua filha de 16 anos, busca pessoas que ainda acreditam no mundo da imaginação e usa dessas pessoas para controlar suas mentes em seu mundo surreal. O personagem de Ledger surge como um homem enforcado e desmemoriado que se une a trupe para ajudar Parnassus com sua missão de conseguir 5 almas para o Diabo.
Daí segue-se um filme que é um deleite visual, com universos fantásticos, fotografias magníficas, figurinos ótimos, tudo para dar corpo a imaginação das pessoas que atravessam o espelho de Parnassus. O roteiro, como de costume nos filmes de Gilliam, é complexo, e é necessária atenção redobrada para compreender o desenlace da trama. As soluções são, por vezes, incoerentes no começo, mas acabam por se explicar ao longo do filme. Ledger faz aqui sua personagem mais sapeca, mais marota, a não pode se negar que Gilliam teve sorte em ter filmado com o ator todas as cenas no "Mundo Real", possibilitando a incursão de seus substitutos Johnny Depp, Colin Farrell e Jude Law no mundo imaginário, com uma justificativa cabível e que agrada o público.
O que talvez não agrade a todos seja exatamente essa viagem imaginária, a liberdade criativa fica por vezes confusa e infantil, mas isso não tira o brilho do filme.
As atuações são sinceras, inspiradas e quase burlescas e circenses. O tom de circo, por sinal, é marca da trupe, que traz lembranças de Moulin Rouge em seu estilo visual. Os convidados ao papel de Ledger tiveram o cuidado de manter os trejeitos, o modo de falar de seu original, visualmente ficaram bem parecidos com Ledger e não podemos negar que são 3 talentosos atores, o que chega a ser um presente ao público.
Parnassus é um filme inovador, maluco, mágico, por vezes confuso, animado, tem seus momentos sinistros e suas inseguranças. Exatamente como é a nossa imaginação. Vale o cinema pelo visual. Vale rever em casa para melhor compreensão. Vale por ver o sorriso no rosto de Ledger e a bela homenagem feita pelo trio de "substitutos".

Nota: 7,5

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